Profissão: Bombeiro! Todo o esforço colocado a serviço do outro.

                                             A dor e a alegria de "ser bombeiro"

      caso que emocionou o Brasil  em 2011 - Trata se de um homem que foi consertar a cisterna          em casa e caiu de uma altura de 17 metros, na cidade de Patos de Minas, em Minas Gerais.
Quando nos deparamos com mais uma tragédia como esta em Brumadinho/MG nos damos conta da importância de uma boa atuação dos bombeiros. 







No imaginário social, a palavra "bombeiro", na maioria das vezes, aparece carregada de um sentido de heroísmo e salvação. De fato, ao ser tarefa de um bombeiro todo e qualquer tipo de salvamento - entre eles o combate e resgate de vítimas em incêndios, primeiros socorros e resgate em situação de acidentes de trânsito, buscas e salvamentos terrestres e aquáticos, ajuda em situações de calamidades como destelhamentos e desabamentos, salvamento em altura, captura de animais, corte de árvores, vistorias contra incêndios, palestras preventivas, e até mesmo partos de emergência a caminho do hospital - fica subjacente ao título um certo brilho de "super-herói", um "super-homem" invencível, a solução nas piores tragédias, quando tudo está perdido.

Quem nunca se emocionou ao ver pessoalmente, ou através da mídia, um salvamento envolvendo os bombeiros? O caso é que a outra face da moeda é pouco vista, pouco entendida, pouco trabalhada e até mesmo escondida pelos próprios bombeiros, pela força que carrega o "ser militar". Como relatado por eles:



                 "A sociedade precisa saber que, atrás do bombeiro, tem um ser humano!"

"Ser bombeiro é servir, servir, sempre servir!" "Ser bombeiro é ter amor à vida dos outros." Essa é uma profissão muito exigida: física, emocional, psicológica e socialmente falando, e, através desse diagnóstico, percebemos o amor e o sofrimento envolvidos no dia a dia desses trabalhadores, o que torna esse trabalho ora uma paixão, ora um verdadeiro esforço pela sobrevivência, como atesta a fala de um bombeiro:





"... Faço de tudo para conseguir ajudar aquela pessoa que, naquele momento, precisa de mim. Mas às vezes tudo aquilo que eu faço é pouco, e ela não resiste e acaba falecendo. É muito triste saber que, por mais que eu tenha feito tudo o que era possível, ela não resistiu."

Outro ponto importante a se considerar é a valorização dessa categoria profissional pela sociedade. Embora esta valorize esses profissionais, muitas vezes os recrimina por um salvamento sem êxito. A demora de algum atendimento sempre é interpretada como falha profissional, e não como uma situação que pode fugir do seu controle, como, por exemplo, o trânsito.


"... Nós, bombeiros, fazemos de tudo para chegar o quanto antes no local chamado. Só que, às vezes, a gente acaba demorando, e não é por nossa culpa... O trânsito nos atrapalha muitas vezes."


Alguns outros aspectos relevantes  dizem respeito à valorização interna dos profissionais, ao reconhecimento, à satisfação pessoal em ajudar o próximo, ao bom relacionamento entre colegas de trabalho, à estabilidade profissional, etc. Esses fatores positivos aparecem nos seguintes relatos:


"... Eu me sinto valorizado aqui no corpo de bombeiros. Eu sei que o meu trabalho é muito importante para a equipe, para o resultado final."

"... É muito bom quando conseguimos ajudar uma outra pessoa. Sinto-me um herói."


"Com a convivência acabamos nos tornando amigos. Nos ajudamos, de vez em quando, nos problemas pessoais. Como todos passam por situações parecidas, de certa forma, um conforta o outro."






"Mesmo que o salário, a meu ver, seja baixo, tenho uma estabilidade profissional, e isso me deixa tranqüilo."




Normalmente, a carga horária de um bombeiro que atua na "linha de frente do combate" é de 24 horas trabalhadas, com 48 horas de folga. Nessas 24 horas que permanecem na "guarnição", ou seja, no quartel, aguardando algum chamado, a adrenalina é muito alta, pois sabem que, a qualquer momento, o alarme pode soar, e, quando isso se efetiva, saem sem saber ao certo o que vão encontrar pela frente. Nesse momento, muitas coisas podem passar pela sua cabeça, pois só saberão o que os aguarda quando chegarem ao local. As suas falas ilustram bem essa situação:

"... Quando a sirene toca, acabo ficando nervoso. É uma espécie de angústia, eu acho, porque não sei se vou encontrar um incêndio, um atropelamento, um afogamento, ou apenas uma árvore que caiu e está atrapalhando o trânsito. Sem falar na hipótese de ter vítimas... Eu só me acalmo quando chego ao local, se bem que a tensão continua, só que de uma outra forma.."


"Só trabalho quando sei que alguém está em situação difícil, de sofrimento. Por isso prefiro ficar no quartel aguardando, mesmo que parado, porque, se sou chamado, é porque alguém está passando um momento muito complicado".






Sabemos que todo o trabalho é investido de afetividade por parte do indivíduo que o realiza, sendo que esta é a base do psiquismo, elemento essencial na conduta e nas reações individuais. Leontiev (1978, citado por Cruz, 2005) considera que os sentimentos e as emoções são muito importantes, visto estarem presentes no sistema motivacional que, levando à ação e à atividade, irão compor as características próprias que identificam a individualidade.




Assim, o profissional bombeiro lida constantemente com uma forte carga afetiva em seu trabalho. Nas situações que envolvem vítimas, os bombeiros podem, muitas vezes, estar face a face com a morte, ou com cenas muito fortes. É importante ressaltar que, após a ocorrência, eles voltam ao quartel e ao trabalho, sem nenhum suporte que os ajude a enfrentar tais situações, que, por mais cotidianas que sejam para eles, nunca deixam de ser traumáticas. Precisam agir como se nada tivesse acontecido e estarem prontos para novo chamado, como revela o seu depoimento:





"... Quando a vítima é um adulto, eu fico chateado, claro... Mas, com criança, a dor é maior... Às vezes tenho vontade de chorar, mas tenho que ser forte...".

"Não podemos nos envolver com a situação, temos que ter autocontrole. Os colegas mais experientes dão força para os que ficam mais abalados. Não podemos ser emotivos, somos obrigados a ser frios."

"Seria importante um acompanhamento psicológico pós-acidentes, pois, com o tempo, corremos o risco de "ficar meio 18"(gíria do quartel para designar os que ficam "meio loucos").

"É difícil lidar com a morte, também somos humanos."


Nesse sentido, fica evidente a importância de se oferecer um suporte emocional para lidar com essas vivências e situações traumáticas, que tanto poderia acontecer através de um acompanhamento ou atendimento psicológico ou de um grupo de apoio.


Um agradecimento especial a estes profissionais anônimos que ajudam tanto os outros e muitas vezes são pouco valorizados com as condições de trabalho! Parabéns e continuem exercendo com amor e louvor de sempre!!

adaptado e escrito por Rejane Regio

fotos retiradas da internet - 


fontes:

Psicologia: ciência e profissão

versão impressa ISSN 1414-9893

Psicol. cienc. prof. v.27 n.3 Brasília set. 2007


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