Reflexão sobre o papel da família na formação das crianças por Içami Tiba,

Fim da família? Uma discussão que realmente importa: o caráter da educação que temos dado 
às nossas crianças”.


Já é de percepção geral que os pais, hoje em dia, têm uma atitude exageradamente condescendente tem relação aos filhos. Abdicaram da autoridade que possuem naturalmente. 
Há um temor generalizado de “traumatizar” as crianças. 

Içami Tiba, num de seus últimos artigos, observa que muito se tem discutido, contemporaneamente, a respeito da abrangência do conceito de família e sobre a dissolução do seu modelo tradicional, modelo cuja falência (ao que parece já decretada) implicaria, na opinião de alguns, na má formação moral das futuras gerações.

“Entretanto”, ressalta Içami, “enquanto nos perdemos em discussões improfícuas nessa seara, nos digladiando por conta de formalidades às quais alguns se apegam, não raro, em função de preconceitos infantis, fechamos os olhos para a discussão que realmente importa: o caráter da educação que temos dado às nossas crianças”.

Foi nesse sentido, a fim de recolocar em pauta a reflexão sobre o papel da família na formação das crianças que Içami Tiba, proeminente psicoterapeuta e escritor do campo da educação, passou a discutir o papel que hoje se cumpre mal, em razão da fragilidade cada vez maior das relações sociais e da nossa pressa característica.






Içami Tiba foi um médico psiquiatra, psicodramista, colunista, escritor de livros sobre educação, familiar e escolar, e palestrante brasileiro. Professor em diversos cursos no Brasil e no exterior, criou a Teoria da Integração Relacional, que facilita o entendimento e a aplicação da psicologia por pais e educadores. Faleceu em 2015, vítima de câncer.

Em seu livro Educação Familiar – presente e futuro, pontifica o mestre: “As famílias não estão sendo sustentáveis nem os filhos constroem suas sustentabilidades em tempo adequado. Os pais estão formando mais príncipes herdeiros do que sucessores empreendedores. A autoridade da força física é diferente da autoridade educativa que provém da liderança. Quando um filho erra, pouco educativos são a surra, o grito, a ofensa, o simples perdão etc. 

Para se ter uma educação sustentável o filho tem que aprender a não errar mais. Os pais, no lugar de descarregar frustração e raiva, poderiam dizer: “Você tem que aprender a fazer o certo” e ensinar qual seria a ação mais adequada que o filho teria que praticar para aprender. Uma vez aprendido, o filho nunca mais errará por ignorância, e fará o correto. O melhor aprendizado é quando se faz, mais do que simplesmente ouvir ou ver… 


Assim, os pilares da educação sustentável são: Quem ouve esquece; Quem vê imita; Quem justifica não faz; Quem faz aprende; Quem aprende produz; Quem produz inova; Quem inova sustenta e Quem sustenta é feliz!”.

Já é de percepção geral que os pais, hoje em dia, têm uma atitude exageradamente condescendente tem relação aos filhos. Abdicaram da autoridade que possuem naturalmente. Há um temor generalizado de “traumatizar” as crianças. Esta atitude, segundo muitos psicólogos, decorre de um mal disfarçado sentimento de culpa pelo afastamento, pela ausência em relação à prole.Grande parte dos pais e mães trabalha fora. O pouco tempo de que dispõe para interagir com os filhos acaba sendo desperdiçado em outras atividades.






Num artigo intitulado “Pais ocupados, filhos distantes”, Tiba aborda o problema: “Vivemos um paradoxo inesperado. Trabalhamos tanto e conseguimos avanços tecnológicos incríveis para termos melhor qualidade de vida e tempo, mas temos menos tempo para nos dedicar à família. Muitos pais ocupados sofrem na pele com seus filhos adultos, jovens, adolescentes, ou crianças o não ter compartilhado da vida deles. Várias pesquisas entre os homens de sucesso mostram a distância que existe entre o que vivem e o que gostariam de viver com os seus filhos”.

Entretanto, nota o educador, há pais que, mesmo tão ocupados nos seus negócios, seus filhos não lhes são tão distantes. “São pais de Alta Competência. São pais dedicados também à família, não só aos seus negócios. Uma dedicação que vem de sua disposição interna e disponibilidade externa por terem colocado a educação dos filhos como prioridade”, observa.

Mas o fato é que a maioria coloca os negócios como prioridade. Assim negligenciam a vida, pois o viver é mais importante do que o negócio. Os pais de Alta Performance sabem da importância dos negócios, mas não são assimilados por eles: eles os assimilam para melhorar suas vidas e a dos outros.” 

Quem vive para os negócios, alerta Icami Tiba, “não é dono de si mesmo, mas sim escravo deles. E quando mais precisam da vida é que estes escravos dos negócios se dão conta do quanto deixaram de viver em suas famílias. Um infarto no estrangeiro, um acidente numa estrada longínqua, ou mesmo um filho envolvido com drogas ou uma gravidez precoce faz qualquer profissional rever sua vida”.

Bons pais têm a noção da sustentabilidade de suas vidas. Os avanços tecnológicos da sociedade capitalista trouxeram também o consumismo, o estresse, a falta de tempo… “Falta de tempo? Acredito que nem tanto. Temos tudo para poupar tempo. Revivemos amizades a um simples toque de teclado adentra do no mundo virtual. Encontramos tantos amigos num dia só que no passado levaríamos séculos para encontrá-los pessoalmente”, observa o educador.






Segundo Tiba, os pais que dizem não ter tempo para os filhos estão vivendo a contradição de querer encontrar o tempo passado como seus pais e ancestrais faziam (sentarem juntos, jogarem papo fora, brincarem com ou lerem para os seus filhos, etc). Cada pai pode falar com seus filhos no momento que quiser via celular, Orkut, Skype, MSN, torpedos, Twitter, etc. Estes todos são instrumentos são do tempo presente para contatar as pessoas, e não o contrário.

“Pais de Alta Performance, ensina o educador, “acompanham não só passo a passo seus negócios como também o caminhar e o desenvolver dos filhos na escola e dentro de casa. Basta um clicar e ele tem ao seu alcance as notas que não o surpreenderão no final do ano. Uma exigência e os filhos enviam mensagens pelo twitter resumindo a essência de cada aula que tiveram no dia, usando as suas próprias palavras. Para construir estas mensagens, o filho terá de transformar as informações recebidas do professor em conhecimento. Serve de resumo para as provas mensais”.

Eis o que recomenda o mestre: “Seu filho está preocupado ou sofrendo? Envie-lhe um torpedo perguntando como está e exija resposta mais longa do que um ‘tudo bem’, para agendar um encontro, quem sabe numa lanchonete, para almoçarem juntos e compartilharem este momento que pode ser o ponto de virada entre o bom e o mal resultado… Afinal, são os filhos que vão nos sustentar na velhice, nas doenças da longevidade, além de perpetuar o nosso DNA pelo mundo afora”.

Fonte : http://www.dm.com.br/cotidiano/2017/06/ensinamentos-de-icami-tiba-educacao.html

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