terça-feira, 5 de março de 2019

Saiba o que é o transtorno do pânico, doença que Gisele Bündchen enfrentou



Saiba o que é o transtorno do pânico, doença que Gisele Bündchen enfrentou.

O transtorno se caracteriza por ataques de pânico súbitos, medo de morte iminente e hipocondria.

A modelo Gisele Bündchen anunciou nesta quarta-feira (26) que irá lançar uma biografia, “Lessons — my path to a meaningful life”, na qual conta a sua luta com o transtorno do pânico, distúrbio agudo de ansiedade que atinge cerca de 2% da população mundial.





Quem sofre do problema vivencia ataques súbitos e recorrentes de pânico. Os sintomas, decorrentes de um aumento rápido no nível de ansiedade, incluem coração acelerado, tremores, tontura, falta de ar, pressão no peito, ondas de frio ou calor, e náusea.

Para o professor e psiquiatra Antonio Nardi, fundador do Laboratório de Pânico e Respiração do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no entanto, o sintoma mais dramático é que “a pessoa tem a sensação de que vai morrer”.

“No geral, o ataque dura de cinco a vinte minutos, mas o medo de ter outro pode durar uma vida inteira”, explica. “A pessoa começa a desenvolver um grau de hipocondria, a ficar observando muito todos os seus sintomas achando que tudo pode ser um sinal de doença”, completa.

O temor de que o ataque se repita pode, inclusive, levar a mudanças de comportamento, como evitar certos espaços onde pode não receber socorro imediato. É a chamada a agorafobia.

“Lugares como trânsito, pontes, túneis, lugares fechados, ermos, altos, dos quais não consiga sair imediatamente. A pessoa começa a ter várias fobias não dessas situações em si, mas de passar mal nessas situações e não ter um socorro imediato”, explica Antonio Nardi.





A mudança de comportamento é, inclusive, um dos mecanismos usados para o diagnóstico, como explica o psiquiatra Lucas Gandarela, do Ambulatório de Ansiedade (Amban) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Já o psiquiatra Guilherme Spadini, também do Amban, lembra que é preciso diferenciar um ataque de pânico do transtorno em si.

“O ataque é uma coisa comum. Vai acontecer pelo menos uma vez na vida de 90% das pessoas. O que caracteriza o transtorno é que algumas pessoas continuam tendo de maneira recorrente”, diz. Ele destaca que o número de ataques, em si, não é importante, mas sim que a pessoa tenha medo de tê-los novamente.

Os três especialistas destacam que o diagnóstico pode demorar a vir, porque o paciente tende a achar que o problema é físico e levar tempo em procurar ajuda. “É uma sensação física muito forte, então ela vai buscar o pronto-socorro. Não tem sinal de que é algo mental”, explica Gandarela. Normalmente, os pacientes são encaminhados à saúde mental pelo pronto-socorro.

Causas

Antonio Nardi explica que o transtorno do pânico tem origens hereditárias. De acordo com ele, a prevalência na população geral fica em torno de 2%. Para pessoas que têm um parente de primeiro grau com o distúrbio, a probabilidade de desenvolvê-lo sobe para 18%.

Mesmo assim, só a genética não explica tudo. Fatores ambientais, como o estresse, aumentam as chances de desenvolver o transtorno. “Oito em cada dez pessoas diagnosticadas passaram por algum estressor ambiental importante no ano anterior. Não precisa nem ser uma coisa ruim. Pode ser uma promoção no trabalho, que traz mais expectativa e funciona como um gatilho”, explica Gandarela.

O distúrbio costuma se desenvolver entre os 15 e 25 anos de idade, segundo Nardi, mas também pode atingir crianças. As mulheres também são afetadas, em média, duas vezes mais do que os homens, mas a causa para isso ainda é desconhecida. Existe a hipótese de que a proporção se deva a características hormonais.

Tratamento





Os psiquiatras explicam que o transtorno pode ser tratado com medicamentos, que bloqueiam os ataques de pânico, e terapia, principalmente a modalidade cognitiva-comportamental. “O tratamento é uma exposição sistemática a situações de pânico, porque o ciclo de evitar o ataque aumenta os sintomas”, lembra Spadini.

Nardi destaca, ainda, o papel da atividade física no tratamento. “É tão importante quanto os outros dois. Melhora a ansiedade e funciona como reforço contrário às ideias hipocondríacas, porque a pessoa acaba reconhecendo a sua saúde”, pontua.

Estigma

Gandarela conta que vê pacientes terem o transtorno tratado como frescura. “ As pessoas não conseguem compreender por que alguém que estava ali, fazendo tudo, não consegue mais. FIca parecendo que é do nada, que a pessoa está fazendo por vontade”, explica.

Nardi acredita que o transtorno pode trazer uma desmoralização, porque as pessoas próximas podem não entender por que quem sofre com o distúrbio tem dificuldade em sair só, por exemplo. Para ele, o preconceito também contribui para que as pessoas demorem em buscar ajuda.

Ele destaca, apesar de não haver cura para o transtorno do pânico, é possível que os pacientes voltem a levar uma vida normal se receberem o acompanhamento correto.

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